segunda-feira, 10 de maio de 2010

Relato de uma saudade... de meu pai


"Três anos exatos. É o tempo que faz quando o telefone tocou de madrugada, eu sozinha em casa, e a voz triste de minha irmã dizia "Silê" ... do outro lado da linha. Eu já sabia, nem precisava falar. Meu pai tinha partido. É inexplicável esse sentimento de vazio que fica pra sempre dentro da gente... fica faltando alguma coisa na vida..."

E o tempo passa..

Comecei a escrever este texto acima exatamente no dia 03 de abril/09. Não consegui finalizar, o sentimento era mais forte que as palavras e os pensamentos mais rápidos que os dedos.

Hoje é 10 de maio de 2010, se passaram 4 anos da despedida de meu pai, e a saudade é a mesma! Mas é nostálgica, gostosa, e sinto-me mais tranquila e protegida para colocar em palavras esse sentimento que sempre vai me acompanhar!

Bom ou não, tenho em mim o hábito inconsciente de lembrar de bons momentos e apagar da memória os ruins! Pois são exatamente de bons momentos com meu pai que mais me lembro e tenho saudade!

Quando pequena, bem pequena, ele costumava "animar" nossas festinhas de aniversário,  minha e das minhas 3 irmãs, com um gravador e um microfone em punho. Saía entrevistando toda garotada, fazendo brincadeiras hilárias que toda criança gosta. Tenho uma fita K7 do meu aniversário de 5 anos e me delicio ouvindo as gargalhadas da criançada. Já nessa época, nos fazia viver num mundo musical. Seja ouvindo os seus Lps de gostos variados, seja incentivando a tocar piano, violão, chocalho e até caixa de fósforo, de onde ele próprio tirava um bom batuque.

Até banda da Polícia Militar ele trouxe em casa uma vez, no aniversário de uma de minhas irmãs! As festinhas viravam verdadeiros eventos na vila onde morávamos.

Afilhados? Ele tinha aos montes! Tinha um coração de ouro e todos os amigos traziam os filhos para ele batizar. Era o padrinho do povo!

Aprendi com ele valores que carregarei para sempre como: moral, honestidade, humildade, respeito ao próximo, generosidade, o valor do estudo, o valor da família, entre tantos outros.

Ver as 4 filhas formadas sempre foi o seu ideal e conseguiu alcançar com êxito. Era como se fosse a sua missão! Sorte nossa! E o que somos hoje devemos em grande parte a ele.

Apesar de ter passado por diversos eventos de doenças e estadias em hospitais, nunca o vi reclamar de nada. Foi forte em momentos em que qualquer outro teria se entregue à dor. Mas ele estava lá: firme e forte.

Um dia antes de partir, na última visita do dia, pela 1a vez me disse que estava triste. Perguntei o porquê e ele me disse que tinha saudades de estar conosco em casa. Estava internado na UTI já há uns bons dias, mas sempre forte e consciente, viu companheiros de ala perderem a vida ali. Mas Deus foi bom com ele. Após um período meio "desacordado", retomou toda sua consciência e nesse meio-tempo pode se despedir de todos que o amavam e foram visitá-lo. Acredito que partiu em paz.

Pai, obrigada por tudo!


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